Gilberto Gil fala pela primeira vez após morte de Preta Gil. E choca ao dizer q… Ver mais

O Brasil amanheceu mais silencioso neste domingo, 20 de julho. A música perdeu uma de suas vozes mais vibrantes, e a cultura, uma de suas figuras mais autênticas. Faleceu, aos 50 anos, a cantora Preta Gil — mulher de coragem, de riso solto, de voz potente. Ela lutava contra um câncer no intestino desde o início de 2023, enfrentando o tratamento com bravura, fé e transparência. Sua morte, anunciada pelo pai, o ícone Gilberto Gil, comoveu o país e gerou uma onda de homenagens emocionadas nas redes sociais.
A artista estava em Nova York, nos Estados Unidos, realizando mais uma etapa de seu tratamento. Gilberto Gil foi quem comunicou a triste notícia, em uma publicação sóbria e profundamente tocante nas redes sociais. “Estamos cuidando dos procedimentos para sua repatriação ao Brasil”, escreveu, em tom contido, mas repleto de dor. Ele também pediu respeito e empatia à imprensa e ao público neste momento de luto familiar. “Contamos com a compreensão de todos”, completou.
A partida de Preta Gil não representa apenas a perda de uma cantora. É o fim de um ciclo marcado por ousadia, amor pela arte, ativismo e entrega. Desde que surgiu no cenário musical, nos anos 2000, Preta nunca se contentou com o papel que esperavam dela. Ao contrário: provocou, reinventou, defendeu minorias e expôs suas vulnerabilidades sem medo do julgamento.
Sua trajetória sempre foi marcada pela autenticidade. Preta era intensa — nos palcos, nas entrevistas, nas redes sociais. Sua sinceridade cativava. Sua gargalhada era contagiante. Sua luta por liberdade de expressão, inclusão e representatividade fez dela uma referência para muitas mulheres e artistas da nova geração.
O diagnóstico do câncer, divulgado por ela mesma em janeiro de 2023, foi mais um capítulo de exposição corajosa. Em vez de se esconder, ela compartilhou com os fãs cada passo da jornada dolorosa: as sessões de quimioterapia, as cirurgias, os dias de fraqueza e os momentos de fé. Suas postagens eram uma mistura de gratidão e resistência. “Estou lutando com todas as minhas forças”, escreveu em uma de suas últimas publicações, acompanhada por milhares de mensagens de apoio.
Nos últimos meses, mesmo com a saúde fragilizada, Preta manteve sua conexão com o público. Gravou vídeos, compartilhou pensamentos e jamais perdeu o tom positivo — ainda que o cansaço fosse visível. Ela encarou a doença como enfrentou toda a sua vida: de peito aberto.
Com sua morte, o país perde uma figura pública que conseguia unir o popular ao politizado. Preta Gil nunca teve medo de se posicionar. Foi uma das primeiras artistas brasileiras a falar abertamente sobre gordofobia, sexualidade, racismo estrutural e machismo na indústria do entretenimento. Em uma época em que muitos preferem o silêncio conveniente, ela escolheu a fala corajosa.
A comoção foi imediata. Celebridades e anônimos usaram as redes para prestar homenagens. Ivete Sangalo a chamou de “luz em forma de gente”. Anitta relembrou o apoio que recebeu de Preta no início da carreira. Caetano Veloso e Pabllo Vittar também expressaram profunda tristeza, destacando a generosidade da artista. “Preta foi sempre maior que a vida”, escreveu Pabllo.
A previsão é que o velório ocorra no Rio de Janeiro, cidade que sempre foi o palco natural de Preta — tanto nas apresentações efervescentes de Carnaval quanto nos momentos mais íntimos, quando dividia com o público seus processos mais pessoais. Ainda não há confirmação oficial da data e local do velório, mas a expectativa é de uma despedida à altura de sua trajetória.
Preta Gil deixa um legado que vai além da música. Sua voz era também de denúncia, de afeto, de acolhimento. Sua presença, um lembrete de que ser verdadeiro ainda é um ato revolucionário. Em tempos de incerteza, ela era um porto seguro para muitos. Ao se mostrar como era — imperfeita, intensa, amorosa — conquistou uma legião de admiradores.
Sua ausência será sentida não apenas por seus familiares e amigos próximos, mas por toda uma geração que cresceu ouvindo seus refrões e se reconhecendo em sua história. Preta Gil foi, até o último instante, a expressão da vida sem filtros.
Ela se vai, mas sua voz continuará ecoando. Em suas músicas, em suas lutas, em cada pessoa que se sentiu um pouco mais livre por causa dela. Porque Preta nunca foi só artista. Foi símbolo. E símbolos, como se sabe, não morrem. Permanecem.